Procura-se o caminho da verdade, mas ninguém sabe dizer ao certo se ele representa uma curva ou uma linha reta. Muitos acreditam que é necessário atravessar uma ponte, passar por um túnel, descer a serra, seguir sempre na mesma direção. Mas, no meio do caminho, há sempre um falso informante que sugere um atalho para se chegar até ela de forma mais rápida e o resultado disso é que, ao findar a viagem, nada se encontra, a não ser uma extensa rua sem saída.
Não é possível viver em sociedade estando alheio aos acontecimentos exteriores. Pelo fato de os homens serem diferentes entre si, haverá também formas opostas de analisar e expor opiniões, o que gera dúvidas a respeito do real e imaginário. E isso acontece com tanta frequência, que não existe mais compromisso em se relatar os fatos, tais como são ou ocorreram, mas sim, como poderiam ter sido.
Poder-se-ia, então, dizer que essa reciclagem da verdade é prejudicial ao público que a absorve, uma vez que funciona como um instrumento de alienação. Acontece que é absurdamente comum a preferência pela incoerência narrativa ou desonestidade/exagero dos acontecimentos. A satisfação reside no afastamento da rotina, na evasão da realidade, naquilo que não é normal à vida coletiva.
A ausência do questionamento sobre a veracidade daquilo que se ouve, lê ou a que se assiste é interessante para aqueles que contribuem para a formação de opinião pública. Romper com a verdade ou distorcê-la, dando-lhe um aspecto fantasioso e sensacionalista é uma estratégia lucrativa, chamativa e atrai seguidores. E, enquanto der certo, muitos se perguntam ‘por que não’?
Em meio a tantos desvios, a verdade torna-se um conceito relativo: depende de quem a compartilha, depende de quem a enxerga. A retórica da “quase verdade” é de fácil contágio e depois de tantos atalhos, fica difícil achar o caminho de volta.