Eu sabia que chegaria a hora de ele sair de dentro de mim, mesmo que doesse, mesmo sem um chorinho imediato. Então, esperei, sem antecipação.
Eu sabia que teria de acalentá-lo com outros tecidos que não fossem o meu ventre, o mais aquecido de todos. Então, eu me apliquei.
Eu sabia que o momento de alimentá-lo com outros nutrientes que não fossem o meu seio assomaria. Então, eu me doei, sem urgência.
Eu sabia que teria que vê-lo dormir em outro recanto que não fossem os meus braços. Então, eu o encobri de calor.
Eu sabia que teria que vê-lo andar sem segurar em minhas mãos. Então, eu as apertei com solidez e determinação.
Eu sabia que o veria dizer tchau e me virar as costas, partindo sozinho, para o lado oposto. Então, caminhei ao seu lado, ajustada o quanto pude.
Eu sabia que teria que acompanhar a noite sua respiração ofegante, uma vez que respirar por ele eu não podia. Então, suspirei e vigiei seu sono.
Eu sabia que o veria praticar a leitura de um livro com seus próprios olhos, por sua conta. Então, esgotei saliva e devaneios a contar-lhe as minhas estórias.
Mas não me organizei para esse instante. Não estava pronta para vê-lo subir no andar mais alto, para vê-lo escorregar no escorregador de aventura mais verdadeira, o escorregador azul.
Mas quão alto ele poderá ir?
E quão alto superarei deixá-lo ir?
Sabia que chegaria a hora em que eu ficaria aqui embaixo, vendo-o desafiar seus limites e fugir dos extremos dos seus sonhos. Então, sonho junto, bem perto, sem fim.
Nós, homens, apenas imaginamos o quão imenso é o sonho de gerar uma vida; temos velados sonhos, talvez improváveis sensações…Quando na verdade as vemos gerar a luz que move os mundos. Feliz dia das mães, Francine!
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Esse é o desafio divinal da mãe: estar sempre pronta e, com o coracão apertado, sonhar o sonho do filho, sofrendo, vibrando e se realizando com ele.
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