Mais um encontro para a série “Duetos”, oportunidade criada para deixar eclodir a vontade de conhecer o outro, de desafiar-me a novas formas de escrita e para me aproximar daqueles que cultivam as palavras como companhia predileta, sejam escritores, devaneadores ou parceiros na vida que gostem de traduzir em verbos suas sensações.
E o “encontro” de hoje me trouxe satisfação e alegrias imensas, pois é com o Marcelo, do blog Patriamarga. Tomei a liberdade de descrever o seu relato sobre a máxima de sua vida, acho que nada mais esclarecedor e uma forma de mostrar uma “pitada” de quem ele é (interpretação minha, obviamente, que o tenho conhecido um pouquinho mais a cada post):

SILÊNCIO E GRITO EM DUELO
Tempos bons eram aqueles em que tudo era silêncio, foi aí que, do nada e sem que me consultassem: – Haja a Luz!
Neste momento em diante começou a minha encrenca!
Luz que cega e ensurdece onde nem é permitido sussurrar. Era uma vez um caminhar mudo. Alguns saudosistas ainda celebram os tempos idos, chamando-os bons, inigualáveis e põem-se a blasfemar-me no agora.
Ei! Espera lá! Quem disse que silêncio é sinal de ignorância e fraqueza?
Bom, oficialmente não é! Não mesmo!
Se bem que tem uns cabras da peste que utilizam o silêncio como escudo, uma forma danada de não expor sua insignificância. E sabe de uma coisa? Fazem muito bem! Sabem usar o silêncio de forma correta.
Estou, sem que você saiba, no seu encalço, aguardando o inusitado momento para romper. Eclodo, não surjo apenas. Sua mudez não me estagna a trajetória. Onde houver sossego, eu me despejarei em bramido.
Silêncio de refletir, meditar e buscar as respostas.
Se quer meditar em busca de inexistentes respostas, venho ao seu alcance feito fogo sorvido a arder as entranhas: sou berro.
Silêncio para quem tem a resposta certa, mas prefere viver em paz.
Se quer paz em seu remanso, vou perturbar seu momento, em anarquia com seus pensamentos, pois não permito ordem, somente embaraço: feito rugido.
Os que precisam para absorver a beleza de onde estão.
Dos que se encontram apaixonados demais e apenas admiraram a pessoa amada.
Se apenas desejar contemplar a beleza que só sua alma é capaz de perceber, em tom de calmaria, então eu me visto de exclamações e ofusco seu olhar com o brado mais robusto que sair do meu peito.
Silêncio de respeito ao mais forte.
Não lhe aprovo calar-se em respeito, meu protesto é de contestação.
Do mais forte ao Mestre conhecedor de tudo.
Se se auto-impuser discrição com quem o educa, lanço um uivo imediato, pois sou eu quem lhe doutrina.
Silêncio dos que se despedem da vida e os que apenas respeitam aos que partem.
Não se atenha ao sigilo da despedida, deixe que partam todos em vasto alarido.
Silêncio do descanso merecido
Da tocaia certeira
Do que se esconde em perigo
Da alma penada.
Troque a quietação do descanso pela exaustão de um grito rouco e desmedido. Um grito de quem não sabe esperar e sai de trás da moita ao encontro do perigo.
Silêncio dos cartazes de hospitais.
E onde as almas enfermas se alojam, posso ser a catarse em forma de brado.
Do cinema lotado
Para o ator em cena.
A gargalhada infame diante do artista no palco.
Silêncio aos que contemplam o infinito
Do esporte solitário e do treino desgastante
Silêncio para os que nada sabem
E aos que sabem demais.
O som latejando na mente de quem sabe demais e sofre com um segredo pedindo passagem para seguir em revoada.
Silêncio, cúmplice do erro a dois e dos que não testemunham
Silêncio do inocente e do perverso carrasco.
Posso ralhar-me diante do seu crime e vociferar aos quatro cantos de quem é o pecado.
Da mulher abusada e amedrontada com o canalha que ronda.
Em um instante, queixo-me do seu abuso, pois esse silêncio não me ingressa.
Dos que se concentram.
Na sua concentração, instalo o caos, os cacos, a dispersão.
O silêncio do escritor rodeado de palavras.
Só sei ser a palavra que insiste em sair da boca do escritor de mãos endurecidas.
Do Mestre Chaplin que nada diz, mas que muito se expressa.
O quadro de Munch que explode em desespero.
Dos que apavoram antes do grito de horror.
O desassossego do perdido.
Dos milésimos de segundos entre o soco e a queda do inimigo.
Sou a dor da queda na batalha perdida.
Da paz que se sente aliviado
E se seu coração, ainda assim, preferir o silêncio, então levarei meu grito para longe.
Silêncio!
Onde não me possam ouvir. Pois só sei ser grito.
Diga lá, o que mais poderia ser melhor para o momento?
Até a próxima semana!
Olá Fran!!! Que legal ver aqui o resultado final desta parceria! Curti muito e confesso que achei bem emocionante ler o texto completo. Mais do que um dueto, um belo duelo! Adorei e sou muito grato pela oportunidade! Você é excelente! 🙂
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Ah, Marcelo, você é excelente e essa parceria me fez muito feliz! Gratidão imensa por você ter comprado esse duelo comigo!
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Viu todos nós estamos nos conhecendo aos pouquinhos. Adorei Marcelo e Fran, esses duetos formam boas reflexões, estou adorando ler cada um deles. Abraços! 🙂
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Fran,
Mais uma vez, o resultado ficou incrível!
Um grande beijo, com carinho!
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Obrigada pelo carinho de sempre, Silvia! Beijão.
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SILÊNCIO E GRITO EM DUELO
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