Eu estava voando e, repentinamente, percebi que a trajetória traçada, antes já sinuosa, transformou-se em um completo ziguezague, cujo ponto de pouso é traiçoeiro. Quando olhei para trás, minhas asas estavam partidas e, até então, eu pensava que era o vento que sobrecarregava meu corpo.
Não me desacredite.
Mas é mais fácil negar que não tenho mais abrigo. Finjo que o consolo está presente e me abandono nessa inocência, mesmo que a rachadura seja facilmente observada ao reflexo do espelho.
Meu adeus não é reversível.
Tantas vezes procurei aquela paz das confidências e a linguagem foi parceira até o momento em que resolveu ferir e a palavra ficou perdida, sílaba a sílaba separada, feito cristal fendido.
Depois dos cacos, renovação.
E hoje quero me reencontrar comigo mesma. Deixo os pedaços de lado, à vista, para que os mesmos enganos não me enlouqueçam.
E guardo a conclusão.
Nem toda dor requer analgésico, nem toda solidão se satisfaz com companhia, nem toda queixa necessita ser invadida. Não sei onde fica a oficina das asas. Algumas coisas não têm conserto.
Participação na Quinta Autoral do Fabulonica, blog da querida Ju Lima, com a crônica Adote uma lua, sobre alguém tentando criar um perfil num site de relacionamento.
Criei esse espaço “Duetos” para deixar eclodir a vontade de conhecer o outro, de desafiar-me a novas formas de escrita e para me aproximar daqueles que cultivam as palavras como companhia predileta, sejam escritores, devaneadores ou parceiros na vida que gostem de traduzir em verbos suas sensações.
O resultado está me trazendo um contentamento místico e a certeza de que escrever é o que quero fazer para o resto da vida.
E esse encontro de hoje só posso definir de uma forma: foi lindo. Quem me deu a honra de fazer parte desse espaço foi a Juliana Lima, do blog Fabulônica. Conheci a Ju há quase um ano aqui na blogosfera e ela é acolhedora, motivadora, desafiadora, meiga e adotou um verbo para si: compartilhar. Ou seja, o tipo de pessoa necessária. Continuar lendo →
O título do post é uma homenagem à música de Arnaldo Antunes, nomeada “Música para ouvir música” , sobre música para todo tipo de momento, como trabalho, estar distante, querer morrer e até para boi dormir.
O tema diferente do estilo que estou acostumada a escrever se deve a uma comoção singular que me tomou nos últimos dias, ao relembrar, ao vivo em um show, músicas que tanto me foram destacadas ao longo da vida.
E isso trouxe alongadas reflexões!
“A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” (Schopenhauer)
Então, foi necessário vir até aqui para descrever um pouco as músicas da minha vida. Tudo começou com uma lista, eu que quase não gosto delas, chamada “Lista das músicas que mais gosto na vida”, e tive que selecionar e selecionar, porque tinha que ter significado, juntando letra e melodia, era preciso que fossem as mais tocantes, as que fizeram parte de algum momento catártico, ou que trouxessem algum sentimento que beirasse o sobrenatural. Para tanto, tornou-se um seleção muito pessoal, que me define e conta minha história. Como sempre falo e escrevo demais, não podia ser a lista das “10 mais” ou “top 10”, tinha que ser:
AS VINTE MAIS:
Eu ouço música como um anjo doente que não pode voar.
(Mario Quintana)
1) Can’t take may eyes off you – Frank Valli and The Four Seasons
“I need you baby to warm the lonely nights”
2)One more try – George Michael
Sou fã de George e sofri para escolhi apenas uma, mas não é ele, é o sofrimento da canção:
“There are things that I don’t want to learn And the last one I had Made me cry”
3) You are everything – The Stylistics
Sim, sou ancestral, mas essa música é excepcional…
4) And I love her – The Beatles
Gosto de infância…
5) Walk on – U2
Essa música sempre me elevou a outros patamares, mas depois de ouvir Bono ao vivo, meu sonho havia tantos anos, diria que é música-tema da minha vida. Poderia colocar a letra inteira, que é toda ela especial, mas segue o trecho mais avassalador para mim:
“And I know it aches How your heart it breaks You can only take so much Walk on! Walk on!”
6) We’ve got tonight – Kenny Rogers
Essa canção faz a vida parar uns instantes.
“Why don’t we stay?”
7) Time of your life – Green Day
Música-hino. E esse vídeo é arrepiante.
“It’s something unpredictable But in the end it’s right I hope you had the time of your life”
8) Cannonball – Lea Michele
Amo tudo que a Lea faz, mas essa música em especial, é um salto para o mundo.
“I gotta get out into the world again!”
9) On my own
Essa versão é de Les Miserables, maravilhosa e a letra exalta grandes lembranças.
“But every day I’m learning All my life I’ve only been pretending”
10) Setembro (Amada) – Ivan Lins
Essa música do Ivan me traz tantas sensações de quem eu era, de incertezas, de não saber onde pisar…
“Há de ser a mais amada há de estar acima dos desejos Há de estar ao lado de si mesma pronta para viver um grande amor”
11) Eu te amo – Chico Buarque
Chico disse tudo nessa música que eu me realizaria em dizer num poema.
“Te dei meus olhos pra tomares conta, agora conta como hei de partir”
12) Paciência – Lenine
Tudo que Lenine faz é incrível, mas essa música, talvez a mais famosa, é perfeita.
“Até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára”
13) Noites com sol – Flávio Venturini
Toda a discografia do Flávio fez parte da minha vida e serei repetitiva plagiando Vinícius, pois ele “chora no teclado e na voz todas as minhas mágoas de amor”
“Onde só tem o breu Vem me trazer o sol Vem me trazer amor Pode abrir a janela”
14) O mundo é um moinho – Cazuza
“Em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és”
15) Sorri – Djavan
“Sorri quando a dor te torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos, vazios”
16) Olhos de jade – Beto Guedes
“Sou quem vê a miragem E quer acreditar no que vê”
17) A hora e a vez – Boca Livre
“Paga a promessa que não fez, diz a verdade ao mentir”
18) Sem não – Lô Borges
“Quero delicadamente arrebentar toda a lei do mundo e sua lógica”
Impossível explicar o que essa música me causa, com toda a sua simplicidade.
19) Um certo alguém – Lulu Santos
“Quis evitar seus olhos, mas não pude resistir, fico a vontade, então”
20) Uma louca tempestade – Ana Carolina
“Eu quero ser uma tarde gris Quero que a chuva corra sobre o rio O rio que por ruas corre em mim As águas que me querem levar tão longe”
E canto alto, sempre com lágrimas.
Dêem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite.